quinta-feira, 28 de agosto de 2008



Por vezes, as palavras do passado fazem sentido no presente...

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.

(Coimbra, 1994)





quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Madrinhas...


















Quanto não vale uma madrinha com paciência para colher as amoras silvestres e fazer esta compota deliciosa!!!!!mhnhm
...tão bom!!!



quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Conta-me como foi

Tenho acompanhado, sempre que possível, esta série da RTP 1. Para a maioria dos miúdos de hoje, aquele quotidiano há-de parecer tão longínquo! Para mim é um reviver a minha infância. Cresci num bairro, de pequenas vivendas e quintais, a meio caminho entre a cidade e o campo. A curta distância do centro da cidade para, no tempo de escola, virmos almoçar a casa, mas longe o suficiente para a minha mãe dizer "Vou à cidade!". Seríamos aí uns 10 miúdos com idades aproximadas, nesse bairro delimitado de um lado pela linha de caminho-de-ferro(Que hoje já não existe.)e de outro por um pinhal e campos baldios(Actualmente são bairros com vivendas também, felizmente!). As brincadeiras faziam-se na rua ou nos quintais. Íamos a casa almoçar e lanchar porque as nossas mães nos chamavam, senão seríamos bem capazes de passar o dia em fantásticas aventuras: ver quem conseguia saltar mais, lançar um canivete(Hoje em dia, um canivete nas mãos de crianças de 8 e 9 anos nem pensar!) contra um pedaço de madeira, passagem de modelos, jogar a macaca, saltar ao elástico e à corda ou simplesmente explorar o pinhal e os campos! As férias grandes, para a maioria de nós era a continuação das brincadeiras do tempo da escola, mas a tempo inteiro! À noite, os nossos pais sentavam-se a conversar nos quintais e nós andávamos numa correria pelas ruas e , certamente, quem se aproximasse do bairro, ouviria de muito longe as nossas gargalhadas e gritos! A biblioteca da Gulbenkian(Claro!) era a nossa agência de viagens, pelas emocionantes viagens que os livros nos permitiam! Alguns iam visitar primos a cidades do litoral e/ou íamos para casa dos avós, nas aldeias!
Três irmãs desse bando de miúdos, tinham uns primos que viviam no Porto e vinham sempre passar um mês de férias a casa delas. Houve umas férias em que eles trouxeram um Monopólio. Lembro-me de passarmos tardes inteiras a comprar e vender propriedades, estações e companhias da água e da electricidade!!! E a zangar-mo-nos uns com os outros, porque todos queríamos jogar e nós éramos tantos que nunca mais chegava a nossa vez!
Às vezes, a minha mãe fazia uma merenda e lá íamos passar o dia para o rio! Depois vinha o mês de Agosto e o regresso dos tios e dos primos que estavam no estrangeiro e todos os fins-de-semana havia uma festa popular e nós lá íamos passar o domingo a casa do tio, da prima do pai ou dos padrinhos da mãe!
Actualmente, o bairro continua tranquilo e pacato, mas as pessoas já não dizem "Vou à cidade!" e já não há bandos de miúdos a correr pelos quintais. A maioria mudou-se para cidades mais próximas do litoral e os que ficaram não se sentam à noite nos quintais e não deixam que os seus filhos sejam um bando de miúdos a correr às gargalhadas pelas ruas...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Amigos

Nesta corrida louca em que vamos vivendo, acumulamos dezenas de contactos, de colegas do trabalho, daquela pessoa que conhecemos numa acção de formação, daquela outra que nos apresentaram e até se tornou visita de casa e companhia de passeios de fim de tarde com a criançada...nesta roda viva com horários para tudo, a nossa agenda de papel e de telemóvel vai crescendo...crescerá o número de amigos em proporção com as ditas agendas? Não me parece...quando, depois da nossa vida ter mudado radicalmente, precisamos mesmo de um ombro, de um ouvido AMIGO, de companhia para as rotinas diárias, a agenda reduz-se a uma folha meia escrita. E nos fins de tarde em que queremos ligar a um amigo para um café à beira rio, constatamos que as opções são reduzidas. Daquela agenda imensa, a poucos abriríamos o nosso íntimo e esses poucos, em muitos casos, não partilham o mesmo rio que nós!
Este ano, constatei que a minha folha de opções tem 8 ou 9 linhas escritas e nenhuma delas partilha o meu rio! E confirmei que os amigos verdadeiros, na maioria dos casos, não estão connosco diariamente. Mas fazem 4 horas de viagem para estarem connosco uma tarde de sábado e meio domingo; convidam-nos para ir de férias com eles, sacrificando um pouco do seu descanso e da sua liberdade; dão-nos a chave da sua casa, esperam por nós para jantar a horas tardias, escutam-nos, pela noite dentro, sem nos fazerem perguntas; contam-nos pedaços da sua vida que prefeririam esquecer para nos darem alento...


Nestes dias que estive fora, soube que uma das minhas 8 ou 9 linhas tem cancro da mama. Descobriu, num auto exame, um caroço e desde há uns meses tem vivido, quase solitária(apenas a irmã mais velha, uma amiga e eu sabemos), a angústia das viagens para os hospitais, da incerteza dos exames, da espera para saber se é maligno ou benigno...a angústia de não deixar que os outros percebam (Como consegues, D.? Todas as rotinas diárias e continuar a ser o apoio para aqueles que precisam dele!). Conheci esta minha AMIGA há 7 anos, no outro lado do mundo (Onde nem todas as relações eram reais.), quando a conversa se estendia pela noite, na praceta de Vila Verde. Desde então estive com ela duas vezes, em 2004 e agora. Eu tenho um rio e ela tem um oceano!
Tenho a certeza de que ela vai vencer aquele caroço, que nem sabe que a D., na sua serenidade, é uma força da natureza!FORÇA, AMIGA!