quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Conta-me como foi

Tenho acompanhado, sempre que possível, esta série da RTP 1. Para a maioria dos miúdos de hoje, aquele quotidiano há-de parecer tão longínquo! Para mim é um reviver a minha infância. Cresci num bairro, de pequenas vivendas e quintais, a meio caminho entre a cidade e o campo. A curta distância do centro da cidade para, no tempo de escola, virmos almoçar a casa, mas longe o suficiente para a minha mãe dizer "Vou à cidade!". Seríamos aí uns 10 miúdos com idades aproximadas, nesse bairro delimitado de um lado pela linha de caminho-de-ferro(Que hoje já não existe.)e de outro por um pinhal e campos baldios(Actualmente são bairros com vivendas também, felizmente!). As brincadeiras faziam-se na rua ou nos quintais. Íamos a casa almoçar e lanchar porque as nossas mães nos chamavam, senão seríamos bem capazes de passar o dia em fantásticas aventuras: ver quem conseguia saltar mais, lançar um canivete(Hoje em dia, um canivete nas mãos de crianças de 8 e 9 anos nem pensar!) contra um pedaço de madeira, passagem de modelos, jogar a macaca, saltar ao elástico e à corda ou simplesmente explorar o pinhal e os campos! As férias grandes, para a maioria de nós era a continuação das brincadeiras do tempo da escola, mas a tempo inteiro! À noite, os nossos pais sentavam-se a conversar nos quintais e nós andávamos numa correria pelas ruas e , certamente, quem se aproximasse do bairro, ouviria de muito longe as nossas gargalhadas e gritos! A biblioteca da Gulbenkian(Claro!) era a nossa agência de viagens, pelas emocionantes viagens que os livros nos permitiam! Alguns iam visitar primos a cidades do litoral e/ou íamos para casa dos avós, nas aldeias!
Três irmãs desse bando de miúdos, tinham uns primos que viviam no Porto e vinham sempre passar um mês de férias a casa delas. Houve umas férias em que eles trouxeram um Monopólio. Lembro-me de passarmos tardes inteiras a comprar e vender propriedades, estações e companhias da água e da electricidade!!! E a zangar-mo-nos uns com os outros, porque todos queríamos jogar e nós éramos tantos que nunca mais chegava a nossa vez!
Às vezes, a minha mãe fazia uma merenda e lá íamos passar o dia para o rio! Depois vinha o mês de Agosto e o regresso dos tios e dos primos que estavam no estrangeiro e todos os fins-de-semana havia uma festa popular e nós lá íamos passar o domingo a casa do tio, da prima do pai ou dos padrinhos da mãe!
Actualmente, o bairro continua tranquilo e pacato, mas as pessoas já não dizem "Vou à cidade!" e já não há bandos de miúdos a correr pelos quintais. A maioria mudou-se para cidades mais próximas do litoral e os que ficaram não se sentam à noite nos quintais e não deixam que os seus filhos sejam um bando de miúdos a correr às gargalhadas pelas ruas...

2 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Compreendo o que diz e apesar de ter passado a infância numa vila muito próxima do mar ; muitos jogos e brincadeiras , encontros com familiares , vindas e idas de primos , conversas com os mais velhos, tudo isso faz parte do meu vivido ....
Aprecio a série e cá em casa é apreciada por todos , e até a miúda quer saber algumas coisas ...
cordialmente
JrMarto

Blimunda disse...

Era um tempo diferente, de mais liberdade talvez, para as crianças, pelo menos!Boa semana!